Qual deve ser o tamanho do Estado?

Adam Smith, São Tomas de Aquino e o Banco Central. O que eles tem em comum?

A exceção do pensamento anarquista, que não se confunde com bagunça, mas com ausência de Estado, já não se discute mais o papel do Estado como agente regulador.

Impossível imaginarmos milhões de habitantes convivendo em cidades sem uma entidade empoderada que traga uniformidade a determinadas situações, como o registro de propriedade de imóveis, regras de trânsito, moeda em circulação e por aí vai.

Atualmente é praticamente impossível imaginar o convívio social sem o papel do Estado.

Daí a pergunta inevitável. Qual o tamanho do Estado?

Ele deve somente ter um papel regulador, como querem os liberais, ou deve ter uma presença maior na economia como pregam os socialistas?

Os extremos já se provaram errados. O comunismo não deu certo e, por favor, não defendam que a China é um país comunista, e o liberalismo puro acabou sendo terra fértil para maior desigualdade social e pelo nascimento do comunismo e do fascismo.

Admitir que o Estado é necessário não significa consentir que o poder público deva estar presente em tudo.

Dimensionamento do Estado

Existe, então, uma fórmula que se aplique a todos os países? Aí mora o debate. Importar de Chicago as ideias liberais que funcionam nos EUA significa que funcionarão por aqui?

Países que tenham renda per capita baixa, com enormes desigualdades sociais e de distribuição de renda, precisam de uma presença maior do Estado na economia.

Por mais que se concorde com o pensamento de Adam Smith, em Riqueza das Nações, pelo qual o desenvolvimento individual acaba por gerar mais riqueza ao coletivo, reconheço, em certos projetos de necessidade social, mas, com baixo retorno econômico, ou alto risco.

Pois, somente o Estado pode servir de agente indutor para seu desenvolvimento. Setores como infraestrutura, educação, transporte e saúde pública dificilmente prosperam em países subdesenvolvidos sem a presença do Estado.

São setores que precisam de uma política pública de incentivo, dado os volumes financeiros elevados, alto risco, mercado de capitais de porte insuficiente e mercado financeiro muito concentrado em poucos agentes, além de juros normalmente altos.

Atuação essencial

Mesmo assim, o papel do Estado deve se limitar a criar as condições de viabilidade econômica.

O agende privado deve executar o projeto, auferir os lucros imaginados ou assumir as perdas indesejadas. 

Estado não deve, por exemplo, se meter no preço do produto ou do serviço prestado.

Se este está abusivo, deve estimular a concorrência nacional ou internacional para que os preços se ajustem às práticas de mercado.

O Estado deve assegurar que se tenha opção de escolha. Evitar tutelar o cidadão para fazer a escolha em seu lugar, como se este fosse um incapaz.

No âmbito regulatório deve se preocupar com a correção das distorções.

Cito por exemplo os planos de saúde. O papel do Estado não deveria ser de regular se determinado exame, ou conduta médica deva, ou não, estar coberto pelo plano, mas sim de obrigar a empresa do plano a oferecer coberturas customizadas ao cliente e ao final cobrar pelo pacote escolhido.

Do que interessa um homem solteiro obter plano que cubra parto se este não cogita ter filhos?

Por que obrigar aos motoqueiros a usarem capacetes se estes acreditam nas suas habilidades?

Por que proibir o serviço de Uber moto? Dirão alguns que o acidente de trânsito causa custo ao Estado.

Ora, basta cobrar um seguro obrigatório com prêmio suficientemente alto para o motociclista escolher entre o bolso e o maior risco de morte.

Há sempre um custo indireto no excesso de regulação, sendo o custo da fiscalização. No caso do Uber táxi, basta criar os requisitos do serviço.

Motos de determinadas cores e modelos, local onde podem trafegar, proibição de costurar o trânsito, taxa específica para prever eventuais acidentes, ao invés de discutir a existência do serviço. Se há demanda, surgirá a oferta legal, ou ilegal.

Políticas públicas

Alguns setores carecem de maior presença do estado para seu desenvolvimento.

Daí surge a necessidade das políticas públicas.  Não se trata de subsídio, modelo que não é sustentável a longo prazo, mas de incentivo pela política pública.

Não se trata, também, de escolher privilegiados, mas de reconhecer que determinados setores não existirão sem a participação do Estado.

Como desenvolver a indústria naval, aeronáutica, tecnológica, energética para ficar em poucos exemplos, sem a certeza da existência de infraestrutura adequada para o setor? O papel é de indutor e nunca de partícipe.

A literatura econômica especializada, mostra com estudos econométricos uma relação inversa entre o tamanho do Estado e o crescimento econômico de um país.

Quanto maior o Estado, menor o crescimento econômico.

O economista americano Richard Rahn chega a estabelecer um tamanho do Estado entre 15% a 25% do produto interno bruto (PIB).

Ou seja, reconhece que gastos dos governos podem maximizar o crescimento econômico, mas que a partir de um certo nível passa a ser prejudicial.

A teoria é utilizada por liberais clássicos para defender a ideia de diminuição dos gastos públicos e da tributação.

Também vale a leitura de um estudo do Banco Central Europeu em 2011, sobre 108 países, no período de 1970 a 2008, que conclui que “há um efeito significativo negativo da dimensão do Estado no crescimento econômico”.

Ainda segundo o estudo, “o efeito negativo do tamanho do estado sobre o PIB per capita é mais pernicioso em países com instituições de baixa qualidade”, como infelizmente acontece nos países subdesenvolvidos.

Considerações finais

Como já explicava São Tomas de Aquino, a propriedade privada é muito mais eficaz que a sua alternativa. Essencialmente porque “cada um é mais diligente na gestão do que lhe pertence exclusivamente do que lhe é comum a todos, segundo porque os assuntos humanos são administrados de maneira mais ordenada se cada um for responsável por cuidar de seus próprios interesses”.

Assim, condição essencial para o progresso é a liberdade individual e o estado de direito robusto que proteja o cidadão do Estado.

Este deve regular os contornos da atividade econômica para serem atrativos e a iniciativa privada deve assumir os riscos inerentes da sua operação.

(Por Maurcio Ferro, empresário e advogado, com vasta experiência em mercado corporativo)



Autor: Marco Antonio Portugal
Mestre em Gestão da Inovação e Engenheiro Civil pelo Centro Universitário da FEI, com MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV, MBA Executivo em Administração pelo Ibmec e MBA em Administração pelo Centro Universitário da FEI, possui mais de 25 anos de experiência no setor de Construção Civil, sendo 19 deles em uma das dez maiores empresas do setor no Brasil, onde atuou como responsável por projetos de desenvolvimento estratégico, além da posição como gestor de Custos e Controle e de outras áreas. Professor do MBA em gestão de projetos da BBS Angola desde 2019. Possui certificação como Project Management Professional – PMP® pelo Project Management Institute – PMI. Autor dos livros; Bússola de Gestão para a Construção Civil e Como Gerenciar Projetos de Construção Civil.

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