É hora de repensarmos o uso de stands de vendas

A prática de construir stands de vendas temporários para empreendimentos imobiliários é uma tradição que há muito vem acompanhando o mercado. No entanto, em um momento em que a sustentabilidade se torna não apenas uma tendência, mas uma necessidade global, essa prática, quando mal planejada, se mostra insustentável. A construção de stands específicos para um único projeto e sua subsequente demolição não apenas representa desperdício de recursos, como também contribui para a geração de resíduos e emissão de carbono.

Repensar essa lógica e buscar alternativas, como o uso de showrooms permanentes, stands modulares e até soluções virtuais, não só alinha o setor com as melhores práticas ambientais, mas também reflete uma responsabilidade social que é cada vez mais valorizada pelos consumidores. É chegada a hora de provocar o mercado a abandonar essa prática ultrapassada e abraçar soluções mais eficientes e ambientalmente corretas.

O desperdício e geração de entulho dos stands de vendas

Um dos maiores problemas com stands de vendas temporários é o desperdício de recursos, incluindo materiais de construção, energia e mão de obra. Geralmente construídos com rapidez e visando a um ciclo de vida curto, esses stands não possuem a durabilidade e a qualidade de um prédio que foi pensado para permanecer. Assim que o empreendimento imobiliário é vendido ou o período de exibição termina, a estrutura frequentemente é demolida, transformando-se em entulho e deixando para trás os custos tanto de descarte quanto de transporte dos materiais descartados.

Esse cenário se agrava ao considerarmos a quantidade de recursos que são desperdiçados nesse processo. De acordo com dados da construção civil, um stand de vendas médio gera toneladas de resíduos que acabam em aterros, exigindo ainda a emissão de CO₂ para o transporte e a compactação desses detritos. Esse volume de descarte não contribui em nada para a sociedade, sendo apenas um subproduto da cultura do “uso único”, que vai na contramão dos esforços globais para a economia circular e a minimização dos resíduos. Portanto, repensar o uso desses stands temporários é uma maneira direta de reduzir o impacto ambiental do setor imobiliário.

Alternativas sustentáveis: showrooms permanentes e stands modulares

Para mitigar esses impactos, é imperativo que o setor imobiliário considere soluções alternativas para a apresentação de seus empreendimentos. Uma alternativa promissora são os showrooms permanentes, estruturas fixas e pensadas para servir a múltiplos empreendimentos. Essa abordagem elimina a necessidade de demolições frequentes e ainda oferece um espaço de venda mais robusto, que pode ser adaptado e renovado ao longo do tempo. Showrooms fixos podem ser projetados com recursos sustentáveis, como energia solar, sistemas de reaproveitamento de água e tecnologias de construção modular, tornando-se uma vitrine não apenas para o imóvel, mas também para os compromissos ambientais, sociais e de governança (ASG) dos empreendores.

Outra solução eficaz é o emprego de stands modulares, construções desmontáveis e reaproveitáveis que podem ser transportadas e remontadas em diferentes locais. Estes stands são compostos por partes que se encaixam, permitindo que sejam adaptados para diferentes tamanhos e formatos de terreno, e podem ser utilizados em múltiplos empreendimentos. A modularidade garante que, ao final do período de uso, o stand não se torne lixo, mas sim um recurso para um próximo projeto. Essa flexibilidade e reutilização dos materiais alinha-se diretamente com os princípios de sustentabilidade, oferecendo ao setor uma alternativa prática e economicamente vantajosa.

A imagem da sustentabilidade: um diferencial de mercado

Atualmente, consumidores e investidores têm um olhar crítico em relação ao impacto ambiental de qualquer empreendimento. Optar por soluções sustentáveis não é mais apenas um diferencial competitivo, mas uma exigência de uma sociedade que busca responsabilidade ambiental e ética nas empresas. Empreendimentos imobiliários que eliminam o uso de stands temporários em favor de alternativas sustentáveis não só contribuem para o meio ambiente, mas também fortalecem sua imagem e atraem consumidores que valorizam práticas ecológicas.

Investir em práticas sustentáveis agrega valor à marca e constrói uma imagem positiva para o empreendimento, algo que tem impacto direto nas vendas e na percepção do público. Ao adotar showrooms permanentes ou stands modulares, as empresas demonstram um compromisso genuíno com o meio ambiente, contribuindo para a construção de uma sociedade mais consciente e responsável. Esse diferencial, cada vez mais, influencia as decisões de compra de clientes que se preocupam com a sustentabilidade e que valorizam empresas comprometidas com o futuro do planeta.

Custo-benefício das soluções sustentáveis

Ao primeiro olhar, pode parecer que stands de vendas temporários são uma opção obrigatória, diante do paradigma imposto pelo mercado. No entanto, quando se considera o custo de demolição, transporte de entulho e descarte dos resíduos, essa visão se torna equivocada. Estruturas permanentes ou modulares, embora possam requerer um investimento inicial mais alto, apresentam um custo-benefício melhor ao longo do tempo, com reduções significativas nos gastos com demolição, transporte de materiais e descarte de resíduos.

Além disso, showrooms permanentes e stands modulares podem ser reutilizados em empreendimentos futuros, diluindo o investimento inicial em várias operações e reduzindo o custo por uso. A longo prazo, essas alternativas geram economias substanciais, ao mesmo tempo em que evitam desperdícios e promovem práticas de construção sustentável. Em um setor em que a redução de custos e a eficiência operacional são metas constantes, adotar essas práticas pode representar uma vantagem competitiva tanto no aspecto econômico quanto no ambiental.

O papel do setor imobiliário na sustentabilidade

O setor imobiliário ocupa uma posição estratégica na economia e na sociedade. Isso implica em uma responsabilidade fundamental na promoção da sustentabilidade. Ao adotar práticas que priorizam o reaproveitamento de materiais e reduzem a geração de resíduos, as empresas do setor mostram-se dispostas a contribuir de forma positiva para o meio ambiente e a sociedade como um todo. Abandonar o uso de stands de vendas temporários é uma mudança que pode parecer simples, mas que, em larga escala, trará impactos significativos para o futuro do setor e do planeta.

Essa transformação exige que as empresas reavaliem suas práticas e estejam dispostas a investir em soluções de longo prazo, que reduzam não só o impacto ambiental, mas também a pegada de carbono de suas operações. A sustentabilidade não é mais uma escolha ou uma tendência passageira; é um imperativo. Portanto, o momento de agir é agora, e cabe ao setor imobiliário liderar o caminho para um futuro mais sustentável.



Autor: Marco Antonio Portugal
Doutorando em Operações e Gestão Sustentável, Mestre em Gestão da Inovação e Engenheiro Civil pelo Centro Universitário FEI, com mais de 25 anos de experiência no setor de Construção Civil. Especializado em Gerenciamento de Projetos, possui MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV e certificado como Project Management Professional - PMP® pelo Project Management Institute - PMI. Além disso, possui MBA Executivo em Administração pelo Ibmec e MBA em Administração pelo Centro Universitário FEI. Empreendedor, escritor, pesquisador e jornalista, com registro #0089833/SP.

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